Fraudes no INSS provocam queda de gerência no Maranhão

Weslley Aragão Martins, irmão do vereador ludovicense Wendell Martins (Podemos), havia sido indicado para o cargo por meio de articulação política

Fraudes no INSS provocam queda de gerência no Maranhão

FOTO REPRODUÇÃO

A revelação de um escândalo bilionário envolvendo descontos indevidos em benefícios previdenciários levou à exoneração do gerente-executivo do INSS no Maranhão, Weslley Aragão Martins. A demissão foi publicada no Diário Oficial da União no dia 14 de maio, após pressão crescente por parte de órgãos de controle e da opinião pública.

Segundo investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema funcionava por meio de convênios firmados entre o INSS e entidades privadas, como associações de aposentados, que passaram a aplicar descontos mensais em aposentadorias e pensões sem autorização dos beneficiários.

Em municípios como Raposa, na região metropolitana de São Luís, 100% dos entrevistados pela CGU entre os dias 15 e 19 de abril afirmaram desconhecer os descontos feitos em seus benefícios. As entidades envolvidas incluem CBPA, AAPS, UNIVERSO, UNASPUB, AMBEC, AAPB, CONAFER, SINDNAPI e ABSP — todas suspeitas de atuarem em conluio para desviar recursos dos aposentados.

A auditoria apontou que 67% dos atingidos são aposentados do meio rural, grupo que apresenta maior vulnerabilidade devido à dificuldade de acesso à informação e à conectividade. A falta de transparência e a digitalização acelerada dos processos no INSS contribuíram para a expansão da fraude. De 2021 a 2024, o número de convênios saltou de 15 para 33.

Desde 2016, estima-se que os descontos irregulares superem R$ 8 bilhões, sendo mais da metade (R$ 4,28 bilhões) desviada nos últimos cinco anos. Estados como Maranhão e Piauí estão entre os mais afetados, com até 60% dos aposentados de alguns municípios impactados.

A gravidade do caso levou a uma reestruturação no alto escalão do governo federal. O então ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi substituído por Wolney Queiroz. Já o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado e teve como sucessor Gilberto Waller Júnior, corregedor da Procuradoria-Geral Federal.

No Congresso, parlamentares articulam a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para aprofundar as investigações e responsabilizar os envolvidos. Enquanto o governo aponta que parte dos convênios foi firmada em gestões anteriores, admite que o valor dos descontos irregulares triplicou nos últimos dois anos.

A crise expôs graves falhas na fiscalização do INSS e reforça a necessidade urgente de revisão nos mecanismos de controle e proteção aos beneficiários. Milhares de brasileiros continuam sendo impactados diretamente por um esquema que compromete não apenas seus rendimentos, mas também a credibilidade do sistema previdenciário nacional.