Petrobras volta a distribuir gás de cozinha e pode reduzir valor ao consumidor
Estatal havia deixado o setor em 2020, mas decisão do Conselho de Administração busca conter lucros excessivos de distribuidoras e aliviar o bolso das famílias.

A Petrobras vai voltar a atuar na distribuição de gás de cozinha (GLP) no Brasil. A decisão foi aprovada pelo Conselho de Administração da empresa em meio à preocupação do governo com o preço elevado do produto, que chega a custar até R$ 140 para as famílias, apesar de ser vendido pela estatal às distribuidoras por cerca de R$ 37.
A Petrobras havia deixado esse setor em 2020, durante o governo Jair Bolsonaro, quando vendeu a subsidiária Liquigás para empresas privadas. Desde então, segundo especialistas, as margens de lucro das distribuidoras e revendedores aumentaram de forma expressiva.
De acordo com o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), a margem de distribuição e revenda quase dobrou desde a privatização, subindo 92% — muito acima da inflação do período (33%). Para ele, a ausência da Petrobras no setor aumentou o poder de um pequeno grupo de empresas privadas, o que contribuiu para a alta dos preços.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) classificou a decisão como estratégica, mas defendeu que a estatal também volte à distribuição de gasolina, diesel, álcool e lubrificantes, funções que eram da BR Distribuidora antes da privatização. A entidade também quer que o contrato de venda da Liquigás seja questionado na Justiça.
Diferença entre preços da refinaria e do consumidor final
Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que, entre janeiro de 2023 e abril de 2025, o preço do GLP nas refinarias caiu 17%. Mesmo assim, a redução para o consumidor final foi de apenas 0,7%.
A gasolina e o diesel também seguiram a mesma tendência: queda nos preços da Petrobras, mas aumento ou pouca redução nas bombas. Um levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep) aponta que, desde janeiro de 2023, os preços nas refinarias caíram 17,5%, mas nos postos subiram 21,5%.
Para Mahatma dos Santos, diretor técnico do Ineep, a solução para reduzir de fato o preço para os consumidores seria retomar empresas que foram privatizadas no setor de distribuição, para que a Petrobras possa ter mais controle sobre toda a cadeia e aplicar uma política de preços voltada ao interesse nacional.
Próximos passos
Apesar da aprovação, a Petrobras ainda não informou detalhes de como será essa retomada, nem se haverá venda direta do botijão para o consumidor. O economista Eric Gil Dantas reforça que o combate ao abuso de preços precisa envolver também órgãos como o Procon, o Ministério de Minas e Energia e a ANP.
O retorno da Petrobras à distribuição do gás é visto como um passo importante, mas especialistas alertam que outras medidas serão necessárias para garantir que as reduções nos preços da refinaria cheguem realmente ao bolso do consumidor.